Entrevista com Bruno Wille: Apropriação do espaço público e comunidade
Apropriação do espaço publico e comunidade
S.O: “Em seu ponto de vista, qual a maior dificuldade para a efetiva gestão de territorialidade que contemple ao mesmo tempo interesses econômicos (das empresas) e sociais (dos indivíduos)?
Bruno Wille: “A maior dificuldade é tentar resolver problemas complexos, oriundos de Gestões passadas, que nunca se preocuparam realmente com a divisão e a ocupação do espaço público, de forma simplista. Na cidade do Rio de janeiro, por exemplo, observamos o governo ,tentando recuperar áreas que foram habitadas de forma irregular, utilizando-se de grandes operações, com a participação de vários agentes públicos e dezenas de operários, destruindo o que antes era "permitido", deixando centenas de famílias sem ter lugar para onde ir, ou as mandando para locais longínquos, longe dos grandes centros, dificultando ainda mais a possibilidade de uma vida digna. Esses atos administrativos,visam muito mais interesses pessoais e de grandes grupos econômicos, do que o bem estar e a integração social destas famílias carentes.”
S.O: “Como deve atuar o poder público em Espaços Urbanos ilegais? É apenas uma questão policial ou existem outras (e quais) abordagens?”
Bruno Wille: “Os espaços urbanos ilegais devem ser combatidos em várias frentes de trabalho. Os Órgãos Policiais devem combater os crimes típicos ocorridos nestes espaços tais como:Fraude na Venda ilegal de terrenos ; exploração de serviços por quadrilhas; Furto de energia, água, sinais de TV a cabo, etc.; Tráfico de entorpecentes; Guerra entre quadrilhas entre outros.
Estes procedimentos não são suficientes para impedirem a ocorrência e a manutenção da ocupação ilegal dos espaços, mas atuam como forma de minimizar o controle de grupos sobre estes espaços, daí a necessidade de outras medidas do Poder Público para evitar tal situação, tais como:
Regularização de áreas para serem ocupadas de forma ordenada; Infra Estrutura para estas futuras ocupações; Políticas de recuperação das áreas anteriormente ocupadas de forma ilegal; Monitoramento constante para evitar futuras ocupações desordenadas.”
S.O: “As chamadas “comunidades virtuais” podem ser assim chamadas do ponto de vista científico? A base territorial e o contato físico de seus membros são fundamentais ou não para uma comunidade?
Bruno Wille: “Creio que podemos considerar as "Comunidades Virtuais" como comunidades se considerarmos a evolução da Sociedade. A Falta de tempo das pessoas, agregado a tecnologia, criou um tipo diferente de "Relação Pessoal": Pessoas se conhecem, namoram, se casam,discutem idéias,trabalham e assim, efetivamente vivem em um outro tipo de "espaço". Apesar de não ser um espaço físico, é um espaço concreto, com regras, limites, obrigações e direitos, diga-se de passagem, ainda não muito bem definidos, mas real, tanto quanto qualquer base territorial.
Com relação ao contato físico, não é tão importante, pois numa sociedade que vizinhos se cruzam todos os dias sem nem sequer saber seus nomes, conhecer hábitos, famílias uns dos outros, este contato físico passa a não significar praticamente nada. Muito diferente daquelas "comunidades Virtuais".”
S.O: É possível efetuar a inclusão de comunidades ilegais ao Espaço Público legal? Caso não seja possível, por que não? Caso seja possível, como deve ser feito?
Bruno Wille: “É sim possível esta inclusão, mas devem ser observados alguns aspectos: Deve ser feito um estudo preliminar, para que esta inclusão englobe: Saneamento básico no local, infra estrutura de transporte urbano,postos de saúde etc. Além destes pontos essenciais, deve ser observada também a possibilidade de inclusão social destes moradores em políticas sociais que garantam cursos profissionalizantes, empregos, creches comunitárias e outros que devem ser discutidos com as comunidades, que conhecem e sabem melhor que qualquer um, a respeito das suas necessidades.”