Desmotivação. Duas visões da Polícia Federal
Por: Jones Borges Leal
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Neste último domingo, 4 de setembro, recebi o convite dos meus dois filhos e da esposa para visitarmos a exposição que estava acontecendo no Parque da Cidade, em comemoração ao Dia da Independência. Achei que seria interessante levar os meus filhos ao evento para reforçar os princípios basilares do patriotismo.
Sem a pressa comum do cotidiano, tivemos a oportunidade de visitar diversos estandes ali instalados. Vimos o da Marinha do Brasil, exibindo os seus barcos e os curiosos nós de marinheiro. O do Exército Brasileiro mostrava tanques e canhões. A Aeronáutica simbolizava o seu trabalho com pequenas réplicas de aeronaves. A Polícia Militar, considerada força auxiliar, apresentava os seus cães e equipamentos. A Polícia Civil matava a curiosidade dos visitantes com o seu museu de drogas. A Polícia Rodoviária Federal ostentava as suas potentes motos e a nossa amada Polícia Federal dava show, mostrando com orgulho o seu armamento, barcos, equipamentos de vigilância, robôs para o combate ao terrorismo, entre outras atrações. Um sucesso!
Todos os estandes, é bem verdade, registravam a presença de um considerável número de visitantes, mas - sem puxar brasa para a nossa sardinha - o da Polícia Federal estava simplesmente lotado! Jovens, crianças, mulheres, homens, idosos - todos queriam, enfim, conhecer os instrumentos de trabalho do organismo policial mais respeitado do país.
Sem pressa, como disse, percorri o nosso estande como se um curioso fosse e não um membro da corporação. Enquanto passeava os olhos entre um equipamento e outro, ouvi alguns diálogos mantidos entre os visitantes e os policiais federais que ali estavam trabalhando. Fiquei surpreso com o que ouvi. As pessoas que ali estavam queriam saber de tudo sobre a Polícia Federal: o que é necessário para ser um policial federal? Quando haverá o próximo concurso? Qual a melhor área para trabalhar? Qual o melhor cargo? Como funciona este equipamento? E aquele ali? Que arma é esta, etc etc etc. O bombardeio de perguntas me envaideceu. Fiquei mais orgulhoso ainda de pertencer a esta instituição! Vi naquelas pessoas um sentimento de fé e de crença na instituição. Um sonho a ser realizado na vida daqueles brasileiros.
De repente volto a mim e caio na realidade. Fico imaginando a importância da mídia na formação de idéias daquelas pessoas. Quanto desconhecimento da Polícia Federal! Aqueles jovens, infelizmente, só enxergam o que a mídia lhes apresenta. A massa é assim. Facilmente controlável, no linguajar dos marqueteiros.
A população não sabe que, de uns tempos para cá, os policiais federais vivem internamente um período de altíssimo grau de desmotivação. Desconhecem que as categorias que formam a instituição estão em guerra! Não sabem que o nosso salário, apesar de possuirmos um conjunto de atribuições amplas e complexas - e com alto risco de morte! -, é um dos mais baixos do funcionalismo público. Nem imaginam que as nossas atribuições não constam em lei. Sabem que temos um processo seletivo dos mais difíceis, mas desconhecem que temos uma carreira de mentirinha, que aceita concurso para "chefes".
As pessoas do povo têm consciência que pesa sobre os nossos ombros uma imensa responsabilidade e muito compromisso, mas não avaliam que há pouca contrapartida. Não acreditam que perdemos colegas todos os anos em confrontos com a marginalidade e que a instituição não oferece um mísero seguro de saúde ou de vida. Não avaliam que ficamos meses sem o convívio familiar em razão de viagens a serviço e que ganhamos uma diária que mal dá para pagar uma pensão de subúrbio. Não passa pela cabeça dessa gente que somos enrolados pelo governo quando buscamos melhorias nas condições de trabalho e um salário condizente com as atribuições - como está acontecendo neste momento.
Nem imaginam que temos sérios problemas internos ligados à vaidade dos chefes, à vergonhosa perseguição por meio de ameaças e abertura de procedimentos disciplinares que despedaçam e estraçalham a boa convivência, a amizade e o espírito de corpo, dentre mil outros problemas internos.
Os jovens sonham com o ingresso na Polícia Federal. Mas nem imaginam que em pouco tempo, após a sua aprovação nas fases do concurso, estarão eles estudando para passar em outro concurso, pois já se sentem cansados e desmotivados. Irão cair na real e ver que não era bem isso o que queriam. Não sabem também que, em não passando em outro concurso, estarão eles, em muito pouco tempo, com diagnósticos de depressão, visitando psicólogos e, em muitos casos, com distúrbios que poderão levá-lo até ao suicídio.
Como é linda a nossa grandiosa Polícia Federal quando a olhamos por fora! Mas como está feia para nós que a olhamos por dentro. Uma pena.
Jones Borges Leal é presidente do SINDIPOL/DF
Fonte: Agência Sindipol/DF