Dos 300 juizes federais das varas criminais , 40 são ameaçados de morte, diz Ajufe-por Bruno Wille

19-01-2017 19:19

Dos 300 juizes federais, 40 são ameaçados de morte, diz Ajufe

 


 


Quarenta dos cerca de 300 juízes federais de varas criminais do país estão sob ameaça do crime organizado -ao menos 1 em cada 8 magistrados federais.

 


Há casos de juízes que têm os passos monitorados por criminosos, abdicam de sua vida social e acabam pedindo transferência para outros Estados.

 

O levantamento é da Ajufe (Associação dos Juízes Federais), que considera a proteção oferecida aos magistrados -a cargo da Polícia Federal- insuficiente.

 

O corte no orçamento da PF teve consequência imediata na proteção dos juízes.

 

O único juiz federal que recebe proteção permanente da PF, Odilon de Oliveira, afirma que foi reduzido o número de agentes que faziam sua segurança.

 

Especializado no combate a crimes financeiros e ameaçado de morte por organizações que atuam na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, Oliveira recebe proteção há 13 anos.

 

Sua segurança, antes a cargo de nove agentes, hoje é feita por seis. As equipes foram completadas com agentes de segurança patrimonial da Justiça. "Não é um pessoal treinado e serve apenas de motorista", diz.

 

Em fevereiro, a PF descobriu um plano para matar a juíza Lisa Taubemblatt, de Ponta Porã (MS).

 

O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) anunciou proteção especial a ela, que atua em um processo contra uma quadrilha de tráfico de drogas e armas.

 

Mas, segundo a juíza, os agentes só apareceram cerca de duas semanas após a promessa e foram embora dias depois. "O carro deles ficou dias parado lá [em frente à vara], e ainda de forma irregular. O máximo que ele fazia era estragar o gramado."

 

Outros juízes ameaçados contam somente com a proteção dos seguranças das varas em que trabalham -caso de 3 dos 10 que atuam em varas criminais do Rio.

 

Uma delas é Adriana Cruz, que julgou casos relacionados à máfia de jogos ilegais.

 

"Sua proteção é tão precária que ela comprou com o próprio dinheiro um carro blindado de segunda mão", diz o presidente da Ajufe, Gabriel Wedy, que conversou com os 40 juízes ameaçados.

 

Para o juiz Pedro Francisco da Silva, que julgou no Acre quatro processos contra a organização criminosa liderada pelo ex-deputado Hildebrando Pascoal, a proteção deve ser garantida mesmo após os julgamentos.

 

Silva teve sua casa invadida por homens armados em 2008, oito anos depois das primeiras condenações do caso. Três anos antes, a polícia já prendera pistoleiros contratados para matá-lo.

 

"Mudei minha rotina, mandei meus filhos para outro Estado. O único lugar que eu frequentava era o supermercado", diz.

 

A Ajufe defende a criação de uma polícia judiciária, dedicada exclusivamente à proteção dos magistrados.