PF prende, em MG, suspeitos de participar de pirâmide financeira.

06-02-2012 14:00

Yahoo Notícias / Agência O Globo 



Por: Thiago Herdy
 

 

BELO HORIZONTE - A Polícia Federal (PF) prendeu nesta terça-feira, em Minas Gerais, sete pessoas suspeitas de envolvimento com fraudes de pirâmide financeira. Segundo a PF, a Filadélphia Empréstimos Consignados e outras empresas ligadas à ela captavam clientes para empréstimos bancários tradicionais, e ofereciam serviços adicionais de investimentos com previsão de pagamento de juros altos. A empresa não tinha autorização dos órgão de controle de operações financeiras - como o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) - para realizar as operações.

Entre os presos estão dois gerentes da Caixa Econômica Federal em Lagoa Santa, cidade da região metropolitana de BH e sede da empresa, acusados de receber propina para facilitar a concessão de empréstimos aos clientes dos golpistas. Também foi preso o presidente da companhia: Carlos Henrique Vieira, militar da reserva da Aeronáutica que planejava se candidatar à prefeitura de Lagoa Santa neste ano. Viera usava sua influência entre colegas para captar clientes na corporação, que se tornaram as principais vítimas do golpe aplicado pela organização, de acordo com a PF. O prejuízo total estimado é de aproximadamente R$ 10 milhões.

- A organização criminosa captava valores de terceiros e remunerava mensalmente de 2,5% a 5% mais o índice da poupança. Não existe qualquer investimento que dê um lucro desses - diz Mário Veloso, delegado federal responsável pela investigação, que conseguiu na Justiça bloquear contas bancárias, cerca de 40 veículos e 20 imóveis pertencentes a pessoas envolvidas na fraude.

Para explicar como funcionava o golpe, o delegado disse que um cliente que eventualmente tivesse interesse em contrair um empréstimo de R$ 15 mil em um banco, era convencido pelos funcionários da Filadélphia a tomar um empréstimo maior, de R$ 25 mil, por exemplo. Essa diferença de R$ 10 mil era reinvestida na Filadélphia, com a promessa de remuneração com taxas acima das praticadas pelo mercado. Ao final do pagamento, a Filadélphia prometia devolver os R$ 10 mil.

- Para o cliente, era uma vantagem e tanto, porque havia uma remuneração mensal e a prestação de um empréstimo de R$ 25 mil ficava mais barata do que se fosse R$ 15 mil. Mas a dívida total, maior, ficava em nome do cliente. Se a empresa quebrasse, o prejuízo era maior. A Filadélphia provavelmente quebra a partir hoje (terça-feira), nosso objetivo agora é levantar todo patrimônio dela para minorar os prejuízos dos clientes - explica Veloso.

A empresa atuava em 23 estados do Brasil, e não tinha escritório apenas no Acre, Amapá, Paraíba e Sergipe. É acusada de usar uma construtora, uma revendedora de carros e uma igreja aberta em nome de seus dirigentes para lavar o dinheiro recebido de clientes e desviá-lo para outros fins. Boa parte dos recursos se transformavam em altos salários para funcionários, investimentos em imóveis de luxo e outros bens usados pelos sócios em proveito próprio, de acordo com a PF. A empresa oferecia, ainda, seguros de carro sem autorização da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Além do dono da empresa e dos dois gerentes da Caixa suspeitos de receber propina, foram presos dois vice-presidentes da empresa, a contadora e um segurança do grupo acusado de porte ilegal de armas de uso restrito.

Os investidores da Fiadélphia serão convocados a prestar depoimento a partir desta quinta-feira. A partir disso, a PF poderá saber quem é vítima e quem é cúmplice nas fraudes levantadas. A maioria são cabos e sargentos da Aeronáutica, com investimentos individuais de R$ 1 mil a até R$ 300 mil.

Há dois anos a CVM divulgou comunicado em que desautorizava a Filadélphia a operar do mercado financeiro, mas os donos abriram novas empresas para fugir da fiscalização.

Os investigados responderão por estelionato, formação de quadrilha, falsidade documental, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, e outros crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. As penas de cada um dos envolvidos, somadas, podem chegar a até 90 anos de prisão.